Eleições 2024: Mulheres representam apenas 33% das candidaturas no Piauí

Os dados nacionais do TSE mostram que a mulher é a maioria enquanto público votante, representando 52% do eleitorado; já a minoria quanto se trata de candidaturas, sendo apenas 15% do total.

É fato que as mulheres nas últimas décadas têm assumido espaços que antes eram, predominantemente, compostos por homens. Inclusive, na área da política, em que mulheres têm colocado o seu nome na disputa eleitoral.

Do direito ao voto no Código Eleitoral, conquistado em 1932, a oportunidade de concorrer a um cargo no pleito pelas cotas de 30% para mulheres filiadas nas eleições proporcionais, sendo aplicado nas eleições de 2020. São 88 anos que separam um direito do outro! Apesar dessas leis, será se as mulheres estão, realmente, onde elas querem?

Regina Sousa, Margarete Coelho e Simone Pereira

No Brasil, tivemos apenas uma presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), que chegou a ser reeleita, mas foi submetida a um processo de impeachment, ainda hoje questionável. Já no Piauí, ainda não houve uma mulher eleita, que assumiu o cargo de governadora. Tivemos na história da política piauiense duas mulheres, que no lugar de vice-governadores, chegaram a assumir a cadeira, no caso: a deputada federal Margarete Coelho (PP) e a ex-governadora e, atualmente, secretária da Sasc Regina Sousa (PT).

A ex-deputada federal Margarete Coelho, que já atuou como deputada estadual, foi a primeira mulher a assumir o espaço como vice-governadora na gestão de Wellington Dias, atual ministro do MDS. Isso aconteceu entre os anos de 2015 a 2019, na ausência do governador, ela assumia a cadeira e a caneta do cargo.

De acordo com a ex-deputada Margarete Coelho, apesar dos desafios que são encontrados, tanto na vida pessoal quanto na profissional, os mandatos de mulheres são mais valiosos e transformadores para a sociedade, pois a atuação feminina é mais inclusiva, criativa e inovadora.

“Em ambos os mandatos que exerci, percebi que quando se assume um mandato, ainda não “chegamos lá”, porque é difícil ser mulher na política. Além de nos preocuparmos e cuidarmos da família, pois a gente não a abandona, temos o exercício de um mandato. Quando é feito por mulheres ainda traz desafios enormes, tais como estar nas principais comissões, relatar projetos de lei de destaque, o espaço de fala que sempre é interrompido, e outros”, citou.Ex-deputada Margarete Coelho - (Arquivo/O DIA)Ex-deputada Margarete Coelho

A ex-governadora Regina Sousa, que já foi senadora, e assumiu o cargo de vice-governadora na gestão de Wellington Dias, tal como Margarete Coelho, no entanto, chegou a assumir o cargo de governadora, de forma oficial, por 11 meses, entre os anos de 2022 a 2023.

Segundo a ex-governadora Regina Sousa, diante da sua realidade na infância e juventude, acreditava que exerceria a profissão de professora e a experiência de ser governadora do Piauí não era algo esperado e nem imaginado.

“Quando eu tomei posse como governador, passou um filme da minha vida. Meu Deus! Como é que uma menina, filha de uma quebradeira de coco, chegou a isso. Eu acho que fica quase como um sonho, parece que a gente não está vivendo aquilo, mas foi real. Acho que foi importante para mostrar que a gente pode superar muita coisa e chegar além do que a gente quer, aspirar coisas maiores, chegar em lugares que é para mulher também. Então, isso pelo menos serve como um exemplo de superação”, ressaltou.Regina Sousa, com a faixa de governadora do Piauí  - (Ascom: Gabriel Paulino )

Ascom: Gabriel Paulino

Regina Sousa, com a faixa de governadora do Piauí

Maioria do eleitorado e minoria em candidaturas

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou os perfis tanto do eleitorado quanto das candidaturas para as eleições de 2024 e o que chamou a atenção é os dados nacionais mostram que a mulher é a maioria enquanto público votante, representando 52% do eleitorado; já a minoria quanto se trata de candidaturas, sendo apenas 15% do total.

Esses números refletem também no Piauí, que do total de candidaturas registradas, 33% são de mulheres. Os dados mostram ainda que quanto maior o cargo, menos mulheres registradas. Nestas eleições, apenas uma candidata foi registrada para disputar o cargo de prefeita, no caso, a professora Lourdes Melo (PCO). Em contrapartida, um total de oito homens na disputa do pleito. Já como candidata a vice-prefeita, o número aumenta, com quatro registros de mulheres, contra cinco de candidatos a vice-prefeito do sexo masculino.

Os números das eleições de 2020 indicam uma maior participação feminina, quando comparado ao número de 2024. Para a disputa, quatro mulheres tiveram a candidatura registrada, contra nove homens. Uma delas foi a deputada estadual Simone Pereira (MDB), que comentou sobre a baixa participação das mulheres nas eleições como candidatas à Prefeitura de Teresina e a importância de a mulher estar inserida na política.Deputada estadual, Simone Pereira (MDB) - (Márcia Gabriele / O Dia)

Deputada estadual, Simone Pereira (MDB)

“Eu até fico triste! Na eleição passada tinha eu, a Gessy e a própria Lourdes. Hoje, a gente vê um número menor. Eu acredito que tenha algumas dificuldades. São questões de infraestrutura, que a mulher tem dificuldade dentro do processo eleitoral e da própria vida familiar da mulher. São vários fatores que fazem com que as mulheres se sintam intimidadas de participar do processo. Mas acredito que nós, mulheres, estamos desempenhando esse papel dentro dos espaços de poder para servir de inspiração e também construir uma sociedade mais justa e de mais igualdade e oportunidade”, destacou.

Candidaturas Laranjas

É incontestável a desigualdade que há entre as participações femininas e masculinas nos processos eleitorais. O Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o Brasil tem 6 milhões de mulheres a mais do que homens, ou seja, dos 207,8 milhões de habitantes, 104,5 milhões são mulheres e 98,5 milhões são homens.

Para o cientista político, Bruno Mello, essa discrepância reflete em grande medida em um cenário político ainda muito masculinizado, com ambiente bastante tóxico para a participação das mulheres e a participação efetiva das mulheres contribui para que o espaço político seja mais democrático e inclusivo.

“Não há incentivos, mesmo dos partidos políticos, pelo menos em sua maioria, para essa participação mais incisiva das mulheres. Isso a gente vê, por exemplo, nas várias denúncias que recorrentemente aparecem de candidaturas laranjas de mulheres dentro dos partidos. Só para o preenchimento de cotas, sem uma competitividade efetiva. Por isso é fundamental que, cada vez mais, haja políticas de incentivos para que as mulheres participem e possam realmente se candidatar e mais do que isso, ter condições reais de vitória e de competividade”, explicou.

fonte: portal o dia

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